10/01/2011

PALAVRAS PARA QUÊ, QUANDO TEMOS GESTOS?


A mão percorre o caminho até à boca. Desenha um movimento lento que termina na força pressionada nuns lábios mudos. Engulo a línguagem numa garganta seca, empurrada por dois dedos. Os dedos abrem-se. A mão estica-se na força de um pulso alongado no ar. São dedos cansados que acreditam resistir à espera do encaixe duns ossos revestidos. Os dedos adormecem, inclinando-se sobre eles mesmos num movimento recolhido. O gesto de esperar adormece num silêncio cansativo de desistência. A mão morta percorre uma última vez o caminho até à boca. O tempo ficou sem gestos. E essa boca, ainda que entreaberta, secou o vento de sílabas sem sentido, de uns lábios gretados de tanto esperar um simples gesto.

7 comentários:

Anónimo disse...

Amei este texto..
Tenho saudades das nossas conversas de corredor

beijinhos!

peter_pina disse...

Aninha, saudades tuas! :)

um beijinho

Branca disse...

Olá Pedro,

Os teus textos são de uma interioridade e beleza fulminantes. Embora por vezes pessimistas, mas mesmo assim sobressai a inteligência de uma análise psicológica que poucos sabem fazer.
Estamos sempre a um gesto de tudo e esperar também pode ser um caminho de sonho. Alimenta o sonho e vive.

Beijos
Branca

P.S. O comentário que fizeste no meu sítio prova a tua capacidade psicológica. Aquilo foi mesmo escrito de olhos fechados, :))

Alien David Sousa disse...

Um gesto pode mudar um mundo.

Adorei este teu texto Pedro. Não tenho muito mais para dizer. Gostei.
Bjs alienígenas

peter_pina disse...

Brancamar: que palavras tão bonitas, muito obrigado!

peter_pina disse...

Alien: obrigado, não tenho muito mais para dizer.

Nelson Soares disse...

O que comentei anteriormente serve para aqui, com mais força nas palavras...


Stay Well