07/10/2008

PETER E OS CRANIOS ANGOLANOS NAO SEI QUE


Ele falava, falava e todos fingiam que não o ouviam. Esperávamos a nossa vez ignorando aquela voz que falava, falava. E que os angolanos não sei quê e Cabo Verde não sei quantos e ele falava, falava. Olhou para mim e eu desviei o olhar. E ele falava, falava numa sede louca de expressar tudo e a todos aquilo que tinha a dizer. Mas enquanto falava e falava e os angolanos não sei quê, não se deixava bloquear por qualquer barreira. Nós sim, calados, em silencio, fingíamos que não o víamos, que não o ouvíamos, desejando que aquela voz perturbadora que nos incomodava desaparecesse rapidamente. Então percebi que a loucura estava ali, mas dentro de nós. Ele não era louco, loucos somos nós que vivemos aprisionados silenciosamente nos ossos deste crânio. Ele, ele apenas falava, falava numa liberdade única de Cabo Verde não sei quantos.

1 comentário:

Hugo Filipe Nunes disse...

Adorei Pedro... Simplesmente fantástico..

Não consegui deixar de me rir sem ao mesmo tempo imaginar-me nessa situação a perceber que afinal nós somos os loucos por tantas vezes calar-mos o que deveríamos gritar!


E falar, fala, falar do que amamos e não sei quê...


Abraço.
f n