Não me lembro da cor da tua voz. Não tinhas voz. És uma recordação muda, morta. Uma memória dum silêncio imposto por ti. Os mortos não falam. Abandonam-nos e deixam-nos com uma leve saudade duma história incompleta. No último dia do ano, guardo os restos de alguns capitulos e fecho essa caixa vermelha. Fecho o teu cheiro, a tua cor, o teu sabor. Estás morto. Aceito-o. E assim morre o ano, numa história que não percebeu o fim. Depois do luto, as minhas pernas aprendem a caminhar, sem muletas. Lembro-me da cor da minha voz. Pinto a estrada ao meu som. Um passo, uma pincelada, uma colcheia, uma tecla, depois outra. E um dia, os mortos regressam, não sei de onde, dessa caixa talvez. Mas os mortos não falam. Os mortos não têm cor, sabor, voz, tom. Como podes tu falar comigo, se estás morto?
27.216
Há 3 anos
3 comentários:
Sonho eu que te devia comentar este texto fazendo uma pergunta que deve ser encarada pelo seu lado mais espiritual em detrimento da sua faceta mais cómica: Será que morreu mesmo?
Stay Well*
Nelson: eu axava k sim..., plos vistos não...
Há muitas formas de falar, mesmo aravés do silêncio e realmente enquanto vivemos os que ficam em nós nunca morrem, ainda que partam.
Beijos
Branca
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