
Não me lembro da cor da tua voz. Não tinhas voz. És uma recordação muda, morta. Uma memória dum silêncio imposto por ti. Os mortos não falam. Abandonam-nos e deixam-nos com uma leve saudade duma história incompleta. No último dia do ano, guardo os restos de alguns capitulos e fecho essa caixa vermelha. Fecho o teu cheiro, a tua cor, o teu sabor. Estás morto. Aceito-o. E assim morre o ano, numa história que não percebeu o fim. Depois do luto, as minhas pernas aprendem a caminhar, sem muletas. Lembro-me da cor da minha voz. Pinto a estrada ao meu som. Um passo, uma pincelada, uma colcheia, uma tecla, depois outra. E um dia, os mortos regressam, não sei de onde, dessa caixa talvez. Mas os mortos não falam. Os mortos não têm cor, sabor, voz, tom. Como podes tu falar comigo, se estás morto?
3 comentários:
Sonho eu que te devia comentar este texto fazendo uma pergunta que deve ser encarada pelo seu lado mais espiritual em detrimento da sua faceta mais cómica: Será que morreu mesmo?
Stay Well*
Nelson: eu axava k sim..., plos vistos não...
Há muitas formas de falar, mesmo aravés do silêncio e realmente enquanto vivemos os que ficam em nós nunca morrem, ainda que partam.
Beijos
Branca
Enviar um comentário